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domingo, 24 de outubro de 2010

SOBRE A ENTREVISTA

O questionário foi respondido pela líder do grupo de Samba de Pareia - Dona Nadir, uma importante artista da comunidade local que canta, dança, compõe músicas para Samba de Pareia e coordena um grupo de Reisado Infantil.
Dona Nadir é uma mulher negra de 64 anos de idade. Ela se orgulha de ser negra, remanescente de quilombola e atuar nas manifestações culturais da comunidade. Preocupada com a continuidade da cultura local, ela disse que já está preparando uma neta para continuar o Samba de Pareia.
A entrevistada respondeu às perguntas oralmente, pois não sabe ler e escrever. Essa dificuldade não a impede de ser uma pessoa alegre comunicativa risonha e ótima anfitriã. Além disso a tradição oral é um traço identitário das comunidades quilombolas.

QUESTIONÁRIO

A entrevista que teve como objetivo principal conhecer os motivos que fizeram o homem tornar-se minoria no Samba de Pareia da Mussuca, ocorreu de forma prazerosa, visto que a entrevistada, Dona Nadir respondeu a todas as perguntas de maneira muito solícita e sábia.


Entrevista com Nadir dos Santos, Mestre do Samba de Pareia, Povoado Mussuca/Laranjeiras/SE, em 10 de outubro de 2010. Ela nos recebeu em sua casa com um sorriso que demonstrava a satisfação e o orgulho que sente da cultura herdada de seus antepassados.

Dona Nadir, seu nome completo?
Maria Nadir dos Santos.
Quando foi fundado o grupo Samba de Pareia?
Num sei dizê o ano só sei que foi no dia 23 de julho.
Por que o nome Samba de Pareia?
Pur que é dançado em par – de dois em dois
O que festeja o Samba de Pareia?
Quando nasce uma criança, quinze dia depois, nóis vai na casa da pessoa prá festejá o nascimento da criança qui pra nóis é mutivo de alegria.
Como é formado o grupo?
O grupo é formado de vinte e quatro pessoa, vinte e uma mulé e três home.
Desde que surgiu sempre foi composto dessa forma, mais mulheres do que homens?
Não. Antes dançava tudo junto, home e mulé, mas os home precisou saí pra trabalhar fora, empregado e não podia fartá o trabaio para acupunhar os festejo. Foi aí que as mulé – donas de casa, viúvas e idosas - tomaram conta do Samba de Pareia.

Qual a função dos três homens que ainda participam do grupo?
Eles tocam os instrumentos.
Os homens da comunidade apoiam as mulheres que participam dessa dança?
Sim. Eles apóia.

PESQUISA

O porquê do tema

Durante as aulas da disciplina Optativa II: Identidades Culturais na Pós-Modernidade, ministrada pela Profª. Drª. Vilma Mota Quintela, foi proposto por ela pesquisas sobre minorias identitárias com base na obra de Hall. Escolhemos pesquisar a minoria masculina no Samba de Pareia da Mussuca, visando compreender o motivo pelo qual dos vinte e quatro componentes desta antiga manifestação cultural, apenas três serem do gênero masculino.

Objetivo

Compreender o processo de reelaboração da cultura da Mussuca que culminou com a mudança na composição do grupo de Samba de Pareia ou Parelha da Mussuca, localizado no Município de Laranjeiras - Sergipe.

Passo a passo

A partir de leituras sobre o Samba de Pareia, elaboramos um questionário e fomos ao local entrevistar a representante do grupo, Dona Nadir, o processo foi registrado em filmagens e fotografias.

Resultado

No Samba de Pareia da Mussuca os homens e mulheres dividem o posto de “Mestre”, sem sexismo (atitudes discriminatórias com base no sexo). Para esta comunidade o que importa é preservar a memória dos seus antepassados, cuidando das heranças culturais recebidas. Deslocamentos na base econômica do povoado Mussuca inviabilizaram uma participação mais efetiva dos homens n0 Samba de Pareia. Isto fez com que as mulheres assumissem o comando desta importante manifestação da cultura imaterial do Estado de Sergipe, tornando-se maioria – 21 mulheres e três homens. Os “Mestres” da esquerda para a direita são: Dudu, Alcides, Nadir, Ilza e Mangueira (irmão de Dona Nadir).



Os moradores da Mussuca ainda resistem à presença do branco e orgulham-se de serem negros remanescentes de quilombolas. Os poucos brancos que lá residem respeitam e valorizam os traços identitários que caracterizam a comunidade da Mussuca.




O envolvente Samba de Pareia da Mussuca contagia até os visitantes, a exemplo do grupo Interativo (Glinan, Joseane, Isabel, Marivaldo e Rosângela).


Dividir o palco com artistas consagrados como Chiko Queiroga e Antônio Rogério, eleva auto-estima, não só dos participantes do Samba de Pareia, mas de todos da comunidade.




A participação do Samba de Pareia da Mussuca em eventos promovidos pelo Governo do Estado, a exemplo do Arraial do Povo, na Orla de Atalaia, demonstra o valor dessa importante manifestação para o acervo da cultura imaterial de Sergipe e do Brasil, pois a escravidão é parte significativa da nossa História.


Dona Nadir orgulha-se de ter sido premiada com as Medalhas de Mérito Cultural Tobias Barreto e a do Mérito Aperipê concedida pelo Governo do Estado em 9 de julho de 2009 e 9 de agosto de 2009 respectivamente, representando a cultura popular com o Samba de Pareia da Mussuca, o que deixa não apenas ela como também todos os remanescentes de quilombolas da Mussuca confiantes e orgulhosos da própria história, contribuindo portanto, para a valorização e a afirmação das suas identidades.

APRESENTAÇÃO

Este blog foi criado pelo grupo INTERATIVO da Faculdade São Luís de França, acadêmicos do curso de Letras.A finalidade deste trabalho consiste em investigar o processo de composição do grupo de Samba de Pareia da Mussuca. O povoado Mussuca, localizado a 7 (sete) quilômetros do Município de Laranjeiras e a 20 (vinte) quilômetros da capital sergipana, Aracaju, é berço de uma manifestação cultural única no Brasil – Samba de Pareia. Essa manifestação surgiu há mais de 300 anos, quando os escravos usavam o pouco do tempo de descanso do trabalho nos canaviais para dançar o samba em pares (daí o nome pareia). Séculos depois, os remanescentes de quilombolas deste povoado lutam para preservar essa tradição secular que une o povo da Mussuca, constituindo um forte traço identitário dessa comunidade. O Samba de Pareia é um ritual criado pelos antepassados dos remanescentes quilombolas da Mussuca para celebrar o nascimento de uma criança no antigo quilombo, hoje, povoado Mussuca. Objetiva-se com esta pesquisa, portanto, conhecer o processo de celebração da cultura local que culminou com a mudança na composição do grupo de Samba de Pareia da Mussuca, a fim de estabelecer relações entre os descentramentos do sujeito pós-moderno, abordado por Hall, e pequena representatividade masculina nesta importante manifestação da cultura imaterial de Sergipe. A pesquisa foi desenvolvida a partir do estudo de textos e fotos sobre o Samba de Pareia, expostos na internet; do livro de Stuart Hall – A identidade cultural da pós – modernidade; dos Parâmetros Curriculares Nacionais que abordam a pluralidade cultural; pesquisa de campo; entrevista direta a um dos representantes do grupo (Dona Nadir) e a divulgação dos resultados dessa pesquisa na internet através de blog criado para este projeto. O Samba de Pareia atualmente é composto de 24 (vinte e quatro) integrantes dos quais apenas 3 (três) são do sexo masculino. Devido ao processo de valorização da cultura imaterial no âmbito local e nacional, manifestações folclóricas a exemplo do Samba de Pareia, tornaram-se mais conhecidas dentro e fora dos seus lugares de origem. Os convites para o grupo em eventos culturais de Sergipe e de outro Estados motiva não só os participantes do Samba de Pareia, mas toda comunidade da Mussuca a continuar preservando o seu patrimônio cultural, além de contribuir para a auto estima e afirmação da sua identidade.