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domingo, 19 de dezembro de 2010

INTRODUÇÃO

O blog Presença Masculina no Samba de Pareia da Mussuca foi criado por Glinan, Joseane, Maria Isabel, Marivaldo e Rosangela, todos os alunos do 5º período do curso de Letras da Faculdade São Luís de França. Ele surgiu das discussões a respeito dos descentramentos que deram origem ao sujeito pós-moderno durante as aulas da disciplina optativa II: Identidades Culturais na Pós-Modernidade ministrada pela Professora Doutora Vilma Mota Quintela, tendo como base o livro de Stuart Hall: A Identidade Cultural da Pós-Modernidade.
A pesquisa sobre o Samba de Pareia da Mussuca foi sugerida por Joseane que possui familiares residentes no Povoado Mussuca. O fato do grupo Samba de Pareia ser formado por 24 componentes dos quais apenas 03 serem do sexo masculino, nos despertou interesse de pesquisar o motivo da pequena representatividade dos homens nessa manifestação.
O trabalho ocorreu sem grandes dificuldades, apenas não foi possível reunir todos os integrantes do Samba de Pareia, mas Dona Nadir – líder do grupo foi muito solícita para esclarecer todos os nossos questionamentos sobre essa manifestação. Durante toda entrevista ela enfatizava o orgulho que a comunidade tem das suas tradições, das suas manifestações culturais e de sua origem africana, isso nos fez perceber que o Samba de Pareia, o Reisado, o orgulho de serem negros descendentes de escravos são fortes traços identitários que os identificam e os mantém unidos.
Esse trabalho foi de suma importância para um melhor entendimento sobre a formação das identidades culturais, pois pudemos comprovar na prática que assim como a cultura, a identidade também não é algo fixo, estão em constantes transformações. Assim, não devemos conceber o sujeito pós-moderno como alguém que não possui uma identidade incompleta que vai se formando ao longo de sua vida. Dessa forma “(...) a identidade é realmente algo formado, ao longo do tempo, através de processos inconscientes e não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento” (HALL, p. 38, 2010). Outra importância dessa pesquisa para nós foi fazer uso da moderna ferramenta – blog – para divulgar elementos da nossa cultura imaterial para o mundo, ajudando a mantê-la sempre viva e dinâmica.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

CONCLUSÃO

Durante muito tempo se difundiu o mito de um Brasil sem diferenças, homogêneo. Mas um olhar mais atento para manifestações culturais como o samba de Pareia, nos revela que essa ideia não passa de mito.
A própria temática do Samba de Pareia, que é o nascimento de crianças na comunidade desmitifica esse pensamento.
Ao homenagear e celebrar o recém nascido, esta comunidade está comemorando, celebrando a continuidade da espécie. Para eles não é importante ser “igual”, pois se orgulham da condição de remanescentes quilombolas, ou seja, o que importa é serem respeitados em suas diferenças.
Desta forma, pode-se concluir que essa expressão artística não significa arte pela arte, mas sim, como forma de resistência, de denúncia das injustiças sofridas pelos seus antepassados e que ainda hoje seus remanescentes sofrem as conseqüências. Outro fato que comprova a não arte pela arte é que mesmo os homens precisando deixar o Samba de Pareia por motivo de trabalho, esta manifestação não desapareceu: as mulheres, com apoio dos homens, continuaram conduzindo esta rica manifestação, mantendo viva a tradição da comunidade quilombola da Mussuca.
Isto nos comprova que, assim como a identidade não é fixa e estável, todas as culturas estão em constante processo de reelaboração, introduzindo novos símbolos e atualizando valores. O grupo social transforma e reformula constantemente esses códigos, adaptando seu acervo tradicional as novas condições historicamente construídas pela sociedade.
Conforme os PCNs (1997, p. 43-44) “a cultura não é algo fixo e cristalizado que o sujeito carrega por toda vida como algo que o estigmatiza, mas é elemento que auxilia a compor sua identidade”.

domingo, 24 de outubro de 2010

SOBRE A ENTREVISTA

O questionário foi respondido pela líder do grupo de Samba de Pareia - Dona Nadir, uma importante artista da comunidade local que canta, dança, compõe músicas para Samba de Pareia e coordena um grupo de Reisado Infantil.
Dona Nadir é uma mulher negra de 64 anos de idade. Ela se orgulha de ser negra, remanescente de quilombola e atuar nas manifestações culturais da comunidade. Preocupada com a continuidade da cultura local, ela disse que já está preparando uma neta para continuar o Samba de Pareia.
A entrevistada respondeu às perguntas oralmente, pois não sabe ler e escrever. Essa dificuldade não a impede de ser uma pessoa alegre comunicativa risonha e ótima anfitriã. Além disso a tradição oral é um traço identitário das comunidades quilombolas.

QUESTIONÁRIO

A entrevista que teve como objetivo principal conhecer os motivos que fizeram o homem tornar-se minoria no Samba de Pareia da Mussuca, ocorreu de forma prazerosa, visto que a entrevistada, Dona Nadir respondeu a todas as perguntas de maneira muito solícita e sábia.


Entrevista com Nadir dos Santos, Mestre do Samba de Pareia, Povoado Mussuca/Laranjeiras/SE, em 10 de outubro de 2010. Ela nos recebeu em sua casa com um sorriso que demonstrava a satisfação e o orgulho que sente da cultura herdada de seus antepassados.

Dona Nadir, seu nome completo?
Maria Nadir dos Santos.
Quando foi fundado o grupo Samba de Pareia?
Num sei dizê o ano só sei que foi no dia 23 de julho.
Por que o nome Samba de Pareia?
Pur que é dançado em par – de dois em dois
O que festeja o Samba de Pareia?
Quando nasce uma criança, quinze dia depois, nóis vai na casa da pessoa prá festejá o nascimento da criança qui pra nóis é mutivo de alegria.
Como é formado o grupo?
O grupo é formado de vinte e quatro pessoa, vinte e uma mulé e três home.
Desde que surgiu sempre foi composto dessa forma, mais mulheres do que homens?
Não. Antes dançava tudo junto, home e mulé, mas os home precisou saí pra trabalhar fora, empregado e não podia fartá o trabaio para acupunhar os festejo. Foi aí que as mulé – donas de casa, viúvas e idosas - tomaram conta do Samba de Pareia.

Qual a função dos três homens que ainda participam do grupo?
Eles tocam os instrumentos.
Os homens da comunidade apoiam as mulheres que participam dessa dança?
Sim. Eles apóia.

PESQUISA

O porquê do tema

Durante as aulas da disciplina Optativa II: Identidades Culturais na Pós-Modernidade, ministrada pela Profª. Drª. Vilma Mota Quintela, foi proposto por ela pesquisas sobre minorias identitárias com base na obra de Hall. Escolhemos pesquisar a minoria masculina no Samba de Pareia da Mussuca, visando compreender o motivo pelo qual dos vinte e quatro componentes desta antiga manifestação cultural, apenas três serem do gênero masculino.

Objetivo

Compreender o processo de reelaboração da cultura da Mussuca que culminou com a mudança na composição do grupo de Samba de Pareia ou Parelha da Mussuca, localizado no Município de Laranjeiras - Sergipe.

Passo a passo

A partir de leituras sobre o Samba de Pareia, elaboramos um questionário e fomos ao local entrevistar a representante do grupo, Dona Nadir, o processo foi registrado em filmagens e fotografias.

Resultado

No Samba de Pareia da Mussuca os homens e mulheres dividem o posto de “Mestre”, sem sexismo (atitudes discriminatórias com base no sexo). Para esta comunidade o que importa é preservar a memória dos seus antepassados, cuidando das heranças culturais recebidas. Deslocamentos na base econômica do povoado Mussuca inviabilizaram uma participação mais efetiva dos homens n0 Samba de Pareia. Isto fez com que as mulheres assumissem o comando desta importante manifestação da cultura imaterial do Estado de Sergipe, tornando-se maioria – 21 mulheres e três homens. Os “Mestres” da esquerda para a direita são: Dudu, Alcides, Nadir, Ilza e Mangueira (irmão de Dona Nadir).



Os moradores da Mussuca ainda resistem à presença do branco e orgulham-se de serem negros remanescentes de quilombolas. Os poucos brancos que lá residem respeitam e valorizam os traços identitários que caracterizam a comunidade da Mussuca.




O envolvente Samba de Pareia da Mussuca contagia até os visitantes, a exemplo do grupo Interativo (Glinan, Joseane, Isabel, Marivaldo e Rosângela).


Dividir o palco com artistas consagrados como Chiko Queiroga e Antônio Rogério, eleva auto-estima, não só dos participantes do Samba de Pareia, mas de todos da comunidade.




A participação do Samba de Pareia da Mussuca em eventos promovidos pelo Governo do Estado, a exemplo do Arraial do Povo, na Orla de Atalaia, demonstra o valor dessa importante manifestação para o acervo da cultura imaterial de Sergipe e do Brasil, pois a escravidão é parte significativa da nossa História.


Dona Nadir orgulha-se de ter sido premiada com as Medalhas de Mérito Cultural Tobias Barreto e a do Mérito Aperipê concedida pelo Governo do Estado em 9 de julho de 2009 e 9 de agosto de 2009 respectivamente, representando a cultura popular com o Samba de Pareia da Mussuca, o que deixa não apenas ela como também todos os remanescentes de quilombolas da Mussuca confiantes e orgulhosos da própria história, contribuindo portanto, para a valorização e a afirmação das suas identidades.